O nome tem origem no termo em latim palliare, que significa proteger, amparar, cobrir, abrigar. Logo que iniciei meus estudos na Faculdade de Medicina da USP, fui apresentada a uma emocionante citação: "Curar, às vezes; aliviar, frequentemente; confortar, sempre". Acredito que ela é um potente lembrete sobre a essência de ser médico e a arte de cuidar de outra pessoa.
Essa frase veio escrita em uma camiseta com os nossos nomes retirados da lista de aprovados no vestibular. Marcante desde o início.
A prática de Cuidados Paliativos é uma abordagem cuja finalidade é melhorar a qualidade de vida de pacientes que enfrentam doenças ameaçadoras à vida e seus familiares. Permite a prevenção e o alívio do sofrimento nas diversas dimensões: físicas, psicossociais e espirituais. Os Cuidados Paliativos valorizam a autonomia do paciente e da família na tomada de decisão e nos planos de cuidados (como nas diretivas antecipadas de vontade e testamento vital).
Indivíduos acometidos por diversas doenças podem ser candidatos à avaliação e acompanhamento de Cuidados Paliativos. Dentre estas doenças, destacam-se as doenças oncológicas; as doenças crônicas cardiopulmonares, renais e hepáticas; assim como as doenças neurodegenerativas, sequelas de acidentes vasculares encefálicos e síndrome de fragilidade. Esse cuidado deve ser oferecido em conjunto com os medicamentos que tratam e controlam as doenças (terapias modificadoras de doença), e assume maior importância à medida que ocorre progressão das doenças.
Importância crescente dos Cuidados Paliativos ao longo do curso de doenças crônicas. Gráfico da OMS adaptado (2002). Fonte: HCRP . Adaptado de Azevedo D, Tommaso ABG, Burlá C, Santos G, Dias LM, Py L, et al. Vamos falar de Cuidados Paliativos. SBGG; 2015. 24 p.3
A Organização Mundial de Saúde estima que atualmente haja cerca de 40 milhões de pessoas anualmente com indicação de receber cuidados paliativos no mundo, embora a maioria não receba esse tipo de cuidado de maneira especializada. Além disso, estima-se que 20 milhões de pacientes por ano necessitem de abordagem especificamente voltada para cuidados de fim de vida, sendo que 80% dessa população vive em países de baixa e média renda e 67% são idosos (mais de 60 anos).
Assim percebemos que há muito o que podemos fazer para melhorar os cuidados em saúde e o alívio do sofrimento nos últimos anos da nossa população. Contem comigo para isso.
Fontes:
1. World Health Organization (WHO). 10 facts on palliative care, 2017. Disponível em https://www.who. int/features/factfiles/palliative-care/en (Acesso 17 jun 2020).
2. CARVALHO, R. T.. Legislação sobre terminalidade de vida no Brasil – documentos importantes. In: CARVALHO, R. T.; Souza, M. R. B.; Franck, E. M.; Polastrini, R. T. V.; Crispim, D.; Jales, S. M. C. P.; Barbosa, S. M. M.; Torres, S. H. B. (eds). Manual da residência de cuidados paliativos. BARUERI: Manole, 2018. Anexo 7, p. 1-22.
3. MARTINEZ, Sergio; LIMA, Adaiana. O Testamento Vital e a Relação Médico-Paciente na perspectiva da Autonomia Privada e da Dignidade da Pessoa Humana. Rev. Bioética y Derecho, Barcelona, n. 37, p. 103-120, jun. 2016. http://dx.doi.org/10.1344/rbd2016.37.16153.
4. NICODEMO, I.P.; TORRES, S.H.B. Indicações de cuidado paliativo: os cuidados paliativos recomendados para cada paciente. In: CARVALHO, R. T.; Souza, M. R. B.; Franck, E. M.; Polastrini, R. T. V.; Crispim, D.; Jales, S. M. C. P.; Barbosa, S. M. M.; Torres, S. H. B. (eds). Manual da residência de cuidados paliativos. BARUERI: Manole, 2018. Cap. 3, p. 21- 40.
5. World Health Organization (WHO). Improving access to palliative care, 2016. Disponível em https://www.who.int/ncds/management/palliativecare/Infographic_palliative_care_EN_final.pdf?ua=1 (Acesso 17 jun 2020)
6. World Health Assembly, 67. (2014). Strengthening of palliative care as a component of integrated treatment throughout the life course: Report by the Secretariat.