Quais são os riscos nutricionais quando um idoso interna no hospital?

Autora: Dra. Lyna Almeida
26/01/2023

As peculiaridades do indivíduo idoso trazem desafios relevantes para uma adequada nutrição, principalmente durante a hospitalização. Os idosos compõem um grupo heterogêneo, com ocorrência de síndromes como desnutrição, sarcopenia e fragilidade. A prevalência de deficiência nutricional na população geriátrica é de 15% em pacientes ambulatoriais, 25-60% em pacientes institucionalizados e 35-65% em pacientes hospitalizados. (1)

Nesse contexto, a sarcopenia é uma importante síndrome geriátrica, caracterizada pela perda de massa muscular e força que é acompanhada por um declínio na atividade física, funcionalidade e performance. Uma perda de massa muscular excessiva resulta em prejuízo físico, fragilidade e aumento da dependência. Isso também prejudica a adaptação metabólica às doenças. (2) Muitas vezes de maneira concomitante, a fragilidade pode ocorrer como outra síndrome geriátrica, sendo esta definida como uma vulnerabilidade aumentada ao estresse como consequência do declínio em diversos sistemas fisiológicos acumulados ao longo do envelhecimento. A síndrome de fragilidade apresenta-se como perda de peso significativa, perda de força muscular, lentidão, baixo nível de atividade física e fadiga, podendo ocorrer outras alterações que não entram nos critérios diagnósticos. Sabe-se que a síndrome de fragilidade possui relação com aumento do risco de morte. (3,4)

As razões para desnutrição e perda de peso em idosos são diversas e podem variar amplamente entre esses indivíduos. Causas potenciais incluem inapetência, solidão, polifarmácia, disfagia, baixas condições sócio-econômicas, dependência funcional e declínio cognitivo. Os 9 D’s (demência, depressão, doença aguda e crônica, disfagia, disgeusia, diarreia, drogas, dentição e disfunção) agrupam algumas dessas causas multifatoriais para distúrbios nutricionais (Tabela 1). Estima-se que até 50% dos pacientes estejam desnutridos na admissão hospitalar e muitos outros tornam-se desnutridos durante a internação. (5,6)

Tabela 1 - Fatores potencialmente envolvidos com deficiência nutricional

Os 9 D's
Disfagia
Depressão
Doença (aguda ou crônica)
Demências
Disgeusia
Diarreia
Drogas (medicamentos)
Dentição
Disfunção (incapacidade funcional)



Nas situações de internação hospitalar é inevitável que ocorra um certo grau de inatividade muscular. O repouso prolongado no leito associado a perda de massa magra propicia alterações no turnover das proteínas. A atrofia muscular é ainda mais importante em membros inferiores e na região lombar. Em estudos que examinaram mudanças na síntese de proteínas e massa muscular em adultos saudáveis submetidos a repouso no leito, percebeu-se que os indivíduos mais velhos obtiveram uma perda aproximadamente três vezes maior de massa muscular em comparação com uma coorte de indivíduos mais jovens. (FIGURA 1) (6,7,8)

Figura 1 - Envelhecimento muscular e inatividade física. Após 10 dias de inatividade, indivíduos saudáveis mais velhos tiveram uma perda da massa muscular magra da perna aproximadamente três vezes maior do que uma coorte de indivíduos mais jovens confinados ao leito por 28 dias. Adaptado de Paddon-Jones, 2009.

Apesar de bastante frequente e de estar associada a maior risco de lesões por pressão, infecções e reinternação, a desnutrição em idosos ainda é subdiagnosticada e subtratada. Com o envelhecimento populacional, os profissionais de saúde cada vez mais precisarão de habilidades para reconhecer e manejar a desnutrição nessa população e o geriatra tem papel fundamental na coordenação desse tipo de cuidado.

Esse é um texto autoral



Fontes:
​​1. Mundi MS, Patel J, McClave SA, Hurt RT. Current perspective for tube feeding in the elderly: From identifying malnutrition to providing of enteral nutrition. Vol. 13, Clinical Interventions in Aging. Dove Medical Press Ltd.; 2018. p. 1353–64.
2. Cruz-Jentoft AJ, Baeyens JP, Bauer JM, Boirie Y, Cederholm T, Landi F, et al. Sarcopenia: European consensus on definition and diagnosis. Age and Ageing. 2010 Apr 13;39(4):412–23.
3. Clegg A, Young J, Iliffe S, Rikkert MO, Rockwood K. Frailty in elderly people. In: The Lancet. Elsevier B.V.; 2013. p. 752–62.
4. Won CW. Global Prevalence of Physical Frailty by Fried’s Criteria in Community-Dwelling Elderly With National Population-Based Surveys. Vol. 16, Journal of the American Medical Directors Association. Elsevier Inc.; 2015. p. 548–50.
5. Robbins LJ. Evaluation of weight loss in the elderly. Geriatrics. 1989 Apr;44(4):31-4, 37. PMID: 2647586.
6. Guenter P, Jensen G, Patel V, Miller S, Mogensen KM, Malone A, et al. Addressing disease-related malnutrition in hospitalized patients: A call for a national goal. Joint Commission Journal on Quality and Patient Safety. 2015 Oct 1;41(10):469–73.
7. Paddon-Jones D, Sheffield-Moore M, Urban RJ, Sanford AP, Aarsland A, Wolfe RR, et al. Essential amino acid and carbohydrate supplementation ameliorates muscle protein loss in humans during 28 days bedrest. Journal of Clinical Endocrinology and Metabolism. 2004 Sep;89(9):4351–8.
8. Paddon-Jones D. Lean body mass loss with age. In: Gussler J, ed. The Role of Nutrition in the Accretion, Retention, and Recovery of Lean Body Mass. Abbott Nutrition Research Conference: Selected Summaries; Columbus, Ohio: 2009, 9-14